terça-feira, 29 de dezembro de 2009




Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma bênção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.
Clarice Lispector

E ao tentar se assumir, ela na verdade não se assumiu, mas sumiu! Sumiu de se mesma, e entoada por uma melodia sutil e circunstancial, ela foi se distanciando de si ou talvez nunca se encontrou... no entanto, ela resolveu largar os óculos que insistentemente usava para corromper a sua verdadeira visão... mas como todo vício, a luta é diária para não usá-los mais... o importante é que ela percebeu a possibilidade de viver sem eles, porquanto ela necessita se assumir, se desvencilhar da mente que mente, das suas identificações impostas, dos seus referenciais inventados!

Recontruir-se é preciso. E eu, mais do que nunca, preciso. É uma questão de felicidade; mas de uma felicidade que somente eu poderei sentir, mais ninguém. É a felicidade de ser única agindo como tal. A criança precisa crescer, não posso tentar me livrar dela, entregando-a ao outro ou mesmo aniquilando-a. Ela vai crescer comigo, o que somente é possível se for submetida exclusivamente aos meus cuidados.

Chegou a hora de estraçalhar a carniça, de entender que não entendo, de olhar o outro sem medo, de desvendar a realidade de cara limpa, de coração aberto, atentando-me para a intuição, valendo-me da razão, sentindo a emoção, buscando a harmonização desses elementos, pois não quero me ver perdida no meio do caminho, quero ser realmente livre para saber onde, como, quando, com quem e porque estou....

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